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Raquel Cintra de Negreiros

Torto Arado: um encontro com a ancestralidade





TORTO ARADO

Um encontro com a ancestralidade


Raquel Cintra de Negreiros


Itamar Vieira Jr. nasceu em 1979, em Salvador. Geógrafo , doutor em estudos étnicos pela UFBA foi funcionário do INCRA há quinze anos, experiência que lhe proporcionou maior conhecimento das comunidades quilombolas, indígenas, ribeirinhas e de trabalhadores sem terra da região da Chapada Diamantina. Segundo suas próprias palavras foi um encontro com a própria ancestralidade.


Torto Arado, seu primeiro romance, já conquistou vários prêmios, alguns internacionais: LeYA Portugal, 2018, país onde obteve a sua primeira publicação; Jabuti e Oceanos, no BrasiI, em 2020. Somente em 2019 Torto Arado foi publicado no Brasil pela editora Todavia.


Bibiana e a irmã Belonísia são as vozes que alternadamente narram essa história. O livro tem como cenário uma fazenda no sertão da Bahia, na Chapada Diamantina, onde diversas famílias negras vivem em regime de semi-escravidão, não tendo direito sobre nada do que produzem.

Quase tudo o que tiram da terra Ihes é tirado pelos donos do lugar.


Uma faca achada pelas duas meninas no baú da avó guardado embaixoda cama liga a vida e o destino das irmãs. A narrativa realista retrata a desigualdade, a injustiça e a violência que essas famílias suportam para sobreviver com seus filhos. O romance revela também a forte ligação que a família mantêm com a terra e a natureza. O misticismo, as tradições e o folclore, chegam principalmente atravésde Zeca Chapéu Grande, o pai descendente de escravizados, curandeiro, curadorde Jarê, prática religiosa de origem africana exclusivada Chapada. Ele é líder respeitado da comunidade e a mãe, Salustiana, a parteira do lugar.

As irmãs crescem muito unidas, mas tomam caminhos diferentes.


Belonísia permanece na fazenda. Aprende com o pai a trabalhar a terra, a escutar e entendera natureza. Não pretende deixar aquele lugar que considera sua casa, sua terra. É corajosa e não se intimida com a violência.


Bibiana casa-se com um primo e vai para a cidade. Lá estuda e torna-seprofessora. Volta com o marido Severo para ajudar a família. Os dois começam um trabalho de conscientizar os moradores da opressão em que vivem trabalhando a terra, cuidando dela sem direito algum. Esse sentimento de revolta se dissemina, e o custo desse trabalho traz como consequência a vioIência e crimes na comunidade.


Torto Arado nos coloca em contato com esse Brasil profundo que guarda até hoje essa característica escravocrata que nos envergonha. Narra a seca, a fome, o medo, mas também a coragem, a união, o amor pela terra e o respeito às tradições. A força dos personagens, principalmente das mulheres, marca e liga toda a trama.


Torto Arado foi um dos livros mais vendidos no Brasil em 2020. A estreita ligação do autor com a obra, seu estilo original, contribui para que o leitor, mesmo distante dessa realidade, se identifique com ela.


É um livro que aponta para os novos caminhos tanto da nossa Literatura, tanto do país que queremos.


Um novo nome chegou para a Literatura Brasileira.


Torto Arado/ Itamar Vieira Jr.

Editora Todavia

Capa Elisa v. Randow e Aline Bispo Formato 13,5x20,8x1,7 cm Pgs 264 Peso 0,340 kg ISBN 978-65-80309-31-3 Lançamento 2019

Resenha Raquel C de Negreiros



Ñandutí Serviços de Educação e Cultura

nanduticontato@gmail.com

Edição: Mayra Coan Lago e Fabiana Oliveira

Revista Ñandutí

Margarida Nepomuceno MTB 16 276

20/11/2022




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