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Data: 14/03/2022

Veículo: O Globo

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Foto: RAUL ARBOLEDA / AFP

Faltando pouco mais de dois meses para as eleições presidenciais de 29 de maio na Colômbia, a esquerda obteve resultados históricos nas eleições primárias e legislativas realizadas no domingo. A outra face  desse crescimento inédito foi a perda de votos e espaço no Parlamento pela direita, sobretudo o Centro Democrático, partido do ex-presidente Álvaro Uribe (2002-2010), que vive seu pior momento. 

Três nomes têm muito a comemorar. Em primeiro lugar, o ex-guerrilheiro, senador e agora oficialmente candidato à Presidência pela aliança Pacto Histórico Gustavo Petro, que obteve 4.487.551 milhões de votos nas primárias do seu campo. Dessa forma, Petro consolidou-se como favorito na corrida pela sucessão do presidente Iván  Duque, que o derrotou no segundo turno das presidenciais de 2018.

Se vencer as eleições de maio, Petro, admirador do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e já se articulando com o governo do recém-empossado Gabriel Boric no Chile, a cuja posse compareceu na última sexta-feira, será o primeiro presidente de esquerda da história da Colômbia.

A segunda vitoriosa é a ativista feminista e ambiental negra Francia Márquez, que na disputa com Petro pela candidatura do Pacto Histórico conseguiu 783.160 mil votos, superando o respaldo obtido por vários candidatos de centro e direita. Os mais de cinco milhões de votos obtidos pelos candidatos da aliança esquerdista superaram a soma dos votos conseguidos pelos pré-candidatos de centro e direita. Muitos já especulam em Bogotá que Francia poderia ser candidata a vice de Petro. Um verdadeiro fenômeno eleitoral num país ainda profundamente conservador.

Por último, o terceiro dirigente que pode comemorar é Federico Gutiérrez, ex-prefeito de Medellín, que conseguiu 2.160.329 milhões de votos e tornou-se o candidato da direita colombiana, pela aliança Equipe pela Colômbia. Nesta segunda-feira, o agora ex-candidato do Centro Democrático, Oscar Iván Zuloaga, renunciou à corrida, num claro gesto de Uribe para respaldar — como muitos esperavam que acontecesse — a candidatura de Fico, apelido de Gutiérrez.

— A esquerda fez sua melhor eleição na história da Colômbia e pela primeira vez terá uma representação expressiva no Congresso. Já o Centro Democrático perdeu seis senadores e 17 deputados — explicou Rodrigo Torres, diretor da empresa de consultoria Valora Analitik.

O Pacto Histórico passará a ter 16 senadores de um total de 102, a bancada mais forte da casa, junto com a do Partido Conservador. Os liberais ficaram com 15 cadeiras, a Aliança Verde, com 14, e o Centro Democrático, com 14. O Senado é essencial para qualquer governo na Colômbia. Na Câmara, o uribista Centro Democrático perdeu 17 congressistas. Já a aliança de Petro subiu de cinco para 25 cadeiras. Se Petro, num eventual segundo turno, for derrotado pela direita, será uma enorme dor de cabeça para quem for eleito.

— Hoje temos, como em 2018, um cenário de polarização eleitoral. O centro não tem um candidato forte. Petro está na frente e com folga, mas não podemos dizer que tem garantias de vencer — afirmou Torres.

Sua afirmação está sustentada na seguinte análise numérica: atualmente, 38,8 milhões de colombianos estão habilitados para votar; estimando, a partir de um nível de abstenção similar ao das últimas eleições, que votarão em torno de 20 milhões de pessoas, o candidato da esquerda precisa obter 10 milhões mais um dos votos para ser eleito no primeiro turno, seu principal objetivo. No segundo turno de 2018, Petro alcançou pouco mais de oito milhões de votos. 

— Chegou o momento da unidade, mas para a mudança — declarou o candidato do Pacto Histórico na noite de domingo, convocando não somente a esquerda, mas também, e principalmente, o centro, a impedir que a direita vença novamente a eleição.

O candidato de esquerda está numa pequena encruzilhada. Se cumprir a promessa de convocar Francia Márquez para completar a chapa presidencial, perde uma carta valiosa numa eventual negociação com o centro. Uma das opções seria um acordo com Sergio Fajardo, que no domingo atingiu 723.084 votos na eleição do candidato da coalizão Centro Esperança. A escolha do vice de Petro é hoje uma das grandes incógnitas do processo eleitoral colombiano.

— A questão do momento são as alianças e a rapidez com que elas serão seladas — aponta o historiador e professor da Universidade Nacional Gonzalo Sánchez.

Para o especialista, “ainda é cedo para saber se Petro conseguirá ou não vencer no primeiro turno, pois a realidade é que hoje, unida, a direita ainda tem mais votos”. Os votos do centro serão essenciais para que a esquerda consiga se impor num eventual segundo turno.

— O centro ficou liquidado, a direita está dividida e a esquerda é a grande vitoriosa do momento. A verdade é que Fajardo tem mais chances de sobreviver politicamente se aliar-se a Petro — avalia Sánchez.

Nas eleições de 2018, o presidente Duque conseguiu mais de 9 milhões de votos no segundo turno graças a uma campanha de todos contra Petro. Tudo indica que o cenário vai se repetir em 2022, e Petro sabe bem disso. A esquerda colombiana nunca esteve tão unida, assim como a direita nunca esteve tão fragmentada. Mas, sabe-se, num eventual segundo turno o mais provável é que mágoas sejam deixadas de lado e todos se unam para impedir que a esquerda chegue, finalmente, ao Palácio de Nariño.

Fonte: Adaptado de UOL. Disponível em: https://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/ansa/2022/03/15/bolivia-jeanine-anez-pede-perdao-mas-diz-ser-presa-politica.htm. Acesso em 18 de março de 2022. 

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