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Foto do escritorMargarida Nepomuceno

EU VIM DE LÁ: artistas imigrantes


Zé Vicente, Shambuyi Wedu e Anais Escalona

Instalação central tridimensional (detalhe). 2022


Até 30 de outubro de 2022, o público poderá ver no Museu da Imigração, na Mooca, a exposição Eu Vim de Lá, composta, especialmente por uma grande instalação com fotos de levas de imigrantes que desde tempos remotos deixaram lugares longínquos para trás em direção ao Brasil. A mostra, que teve início em 28 de maio tem a curadoria de Raquel Amoroso e dela participam a artista venezuelana Anaís Escalona, e os artistas Shambuyu Wetu, da República Democrática do Congo e o brasileiro Zé Vicente. É a soma do resultado de uma extensa pesquisa dos autores realizada durante dois meses dentro do próprio Museu da Imigração e em arquivos do jornal Folha de São Paulo com arranjos, objetos e impressões pessoais sobre o sentido dos deslocamentos migratórios.


Zé Vicente, Shambuyi Wedu e Anais Escalona.

Instalação central tridimensional. (detalhe). 2022


Além da instalação central, diversas outras obras de arte estão espalhadas pelos jardins do Museu e em todas elas, às vezes implícita ou explicitamente, está sendo questionada a situação dos milhares de imigrantes e migrantes que se deslocam de seus lugares de origem e enfrentam condições precárias de acolhimento em outros países, em outras terras. São inúmeras as dificuldades e inseguranças encontradas ao chegarem em localidades diferentes, a começar pelo idioma, pelas exigências burocráticas de identificação, pelas condições do trabalho, pela (in)compreensão e (an)adaptação às novas culturas.


Zé Vicente, Shambuyi Wedu e Anais Escalona.

Instalação central tridimensional (detalhe). 2022


A mostra dialoga com diferentes origens e trajetórias, e procura refletir sobre os aspectos essenciais de deslocamento, as adversas condições de acolhimento e adaptação dos diferentes grupos sociais. Os autores da mostra, dois deles também imigrantes, Anaís e Wetu, juntamente com Zé Vicente, artista que trabalha com intervenção urbana, querem mostrar que os fluxos migratórios sempre existiram e que há questões históricas e também contemporâneas que devem ser levantadas diante de cenários que se repetem. A primeira delas é identificar quem eram esses imigrantes que desde final do século XIX dirigiram-se para o Brasil e quem são os novos imigrantes ou migrantes que ainda se deslocam dentro do país, quer sejam de origem estrangeira ou não. Quais as condições culturais, sociais e econômicas de acolhimento à essas populações? Que dificuldades enfrentam para se estabelecerem nas cidades? Como são recebidos?


Conhecendo, ouvindo e lendo histórias


Zé Vicente, Shambuyi Wedu e Anais Escalona.

Instalação central tridimensional . (detalhes). 2022


Durante os dois meses que os três artistas estiveram juntos, preparando a mostra, foi levantada uma extensa documentação dos arquivos históricos do Museu do Imigrante, antiga Hospedaria do Imigrantes, para identificar os grupos sociais que entraram no país ou se deslocaram de um estado ao outro. Consultaram em seguida os arquivos do Jornal Folha de São Paulo, pesquisa que os colocou diante de histórias e narrativas do cotidiano desses migrantes: narrativas que revelavam a chegada ao Brasil, suas esperanças, expectativas, primeiras dificuldades, tristezas, ausências.


Bandeiras bordadas: “A Imigração sempre foi Racializada”.2022


As explicações para tantos questionamentos, segundo os artistas, evidenciado pelo texto curatorial, nem sempre são claras, elucidativas. Aparecem frequentemente envoltas em explicações oficialistas, discursos dissimulados de acolhimento e solidariedade, de defesa do multiculturalismo e não revelam intenções, políticas de Estado, ou tratamentos discriminatórios e preconceituoso pela condição econômica ou étnica do imigrante.


“Onde estás quando te obrigam a ser ninguém?”


Zé Vicente, Shambuyi Wedu e Anais Escalona.2022


Eu Vim de Lá é também a história dos autores, artistas-imigrantes. Aparentemente são fotografias descontextualizadas, que revelam fragmentos das utopias, colocadas lado a lado, próximas às bandeiras e frases espalhadas pelos jardins do Museu (foto acima). Entretanto, os artistas alinhavam todos os trabalhos (bandeiras, arte/texto, esculturas) à instalação central procurando criar um nexo entre as histórias. Aproximam centenas e milhares de famílias que, provavelmente, não estiveram unidas, mas justapostas em navios, em quartos e refeitórios de hospedarias e constroem uma narrativa dos itinerários desses imigrantes. A história contada é também, parte de suas próprias histórias.


A Hospedaria de Imigrantes


Cerca de 2,5 milhão de imigrantes passaram pela Hospedaria dos Imigrantes, de 1887 até 1978, hoje Museu do Imigrante. Foto acervo Museu.


Durante décadas, mais precisamente desde 1887, a Hospedaria de Imigrantes foi a primeira acolhida de populações imigrantes que desembarcaram no Porto de Santos com destino às lavouras de café e nas indústrias paulistas. Eram italianos, portugueses, japoneses, africanos, espanhóis e demais europeus e asiáticos, vindos de 70 países. De 1887 até 1978, quando cessam os trabalhos da hospedaria, cerca de 2,5 milhões de estrangeiros como também brasileiros vindos de outros estados para São Paulo, e tiveram suas vidas entrelaçadas à de milhares de outras que deixaram seus lugares de origem buscando a esperança de uma vida melhor.


O setor Educativo do Museu tem realizado inúmeras ações com o público visitante, para que todos conheçam o rico acervo, patrimônio único administrado pelo governo do Estado de São Paulo de objetos pessoais, fotos, mobiliário, bagagens, documentos pessoais e burocráticos, enfim, pertences de milhares de famílias que lá permaneceram por algum tempo. Existem exposições permanentes (Migrar, Experiências, Memórias e Identidades) onde são expostos os acervos do Museu e exposições temporárias com duração média de 6 meses. Eu Vim de Lá ficará à disposição do público até 30 de outubro.


Quem são os artistas da mostra “Eu vim de lá”


Zé Vicente, Shambuyi Wedu e Anaís Escalona


A venezuelana Anaís Escalona chegou a São Paulo em 2006, junto com toda a sua família. Cresceu no Brasil, mas tem forte na lembrança o seu país e sua cultura. É formada em Fotografia pelo Senac e seu trabalho mescla colagem, bordado e fotografia, estabelecendo uma relação entre memória e identidade. Um tema recorrente em sua obra são as barreiras que a imigração impõe, como o processo de documentação e a compreensão da língua. Conheça mais a sua obra em:

Formado pela Academie de Beaux Art em Kinshasa, capital da República Democrática do Congo, Shambuyi Wetu chegou ao Brasil em 2014 após uma longa viagem de navio e encontrou aqui a dificuldade de ser um imigrante negro. Seu trabalho tem a diáspora africana e o enfrentamento do racismo como temas principais, que aborda com técnicas variadas, como pintura, colagem e performance.

Conheça mais a obra de Wetu: https://shambuyiwetu.wixsite.com/portfolio


Zé Vicente é brasileiro, formado em artes visuais pela Unicamp e Mestre pela UFRGS. Seu trabalho é dedicado a deslocar imagens, posicionando recortes em cantos da cidade que passam despercebidos e, consequentemente, possibilitando novos olhares para lugares cotidianos.

Conheça mais a obra de Zé Vicente: https://cargocollective.com/zevicente/filter/colagem





Eu Vim de Lá

Zé Vicente, Shambuyi Wedu e Anais Escalona

Até 30 de outubro

Museu da Imigração do Estado de São Paulo

Rua Visconde de Parnaíba,1316- Móoca- São Paulo

Ingressos R$5 (meia) R$10 (inteira)



Ñanduti Serviços em Educação e Cultura

Matéria e imagens: Margarida Nepomuceno

MTB 16 276

Edição: Mayra Coan Lago

Site: www.nanduti.com.br

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